Caravaneiros
CARAVANEIROS
O site www.jornalismoespirita.no.comunidades.net, dando prosseguimento a sua missão de propagador da Doutrina Espírita que, basicamente, traz a todos os ensinos de Jesus para os dias de hoje, entrevista o Sr. Hugo Dagoberto Martins Carvalho, vice-presidente e um dos fundadores da Sociedade Espírita “Caminheiros do Bem”. É também professor, escritor e responsável pelo trabalho maravilhoso de formar e coordenar as equipes de Caravaneiros durante mais de vinte anos na região do Vale dos Sinos, Rio Grande do Sul.
1.JE: Quem é o Hugo Dagoberto Martins Carvalho?
Com certeza, é uma pessoa consciente da necessidade de muito aprimoramento pessoal ainda. Casado, pai de seis filhos, resido em Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul. Tendo nascido em lar espírita, desde cedo tive o privilégio de ver e conviver com os fenômenos do além-morte através de meus pais, que possuíam vários dons mediúnicos e dirigiram várias Casas Espíritas. Tudo isso foi fundamental para que tivéssemos condições de fundar um Centro Espírita, formar grupos mediúnicos e coordenar as equipes de Caravaneiros que visitam e levam o conforto necessário às pessoas que estão impossibilitadas de comparecerem ao “Caminheiros do Bem”.
2. JE: O que é, para o leigo, tornar-se um Caravaneiro dentro de uma Casa Espírita?
É fazer a opção consciente de tornar-se instrumento de boa vontade dos bons espíritos para ajudar a quem quer que seja, os momentos de visitação aos lares necessitados de apoio material, moral e espiritual. Ou seja, levar compreensão da situação para os que perderam a fé na Bondade Divina e se julgam não-merecedores de salvação.
3. JE: O que queres dizer com “compreensão da situação”?
Sabemos e temos certeza de que o Senhor de nossas vidas jamais errou. Consequentemente, tudo o que nos acontece faz parte de um plano divino fantástico, onde nada acontece por acaso e tudo sempre nos convida a nos tornarmos merecedores de um futuro mais feliz, se fizermos a nossa parte, seguindo os ensinos de Jesus. Para obtermos este entendimento, necessitamos assimilar e compreender muito bem a Lei de Retorno associada à Reencarnação. Sem isso, Deus ainda é um ser terrível que necessita ser temido e que jamais perdoa quem erra. Felizes de nós que já conhecemos a doutrina que “matou a morte” e que teve, em Kardec, um codificador dos ensinos atualizados de Jesus.
4. JE: Então, montar uma equipe assim exige muita preparação?
Sim, e muita. No entanto, se fôssemos aguardar que naturalmente chegassem até nós pessoas qualificadas para este mister, não teríamos começado até hoje este trabalho maravilhoso. A começar por nós mesmos. Aproveito este momento para informar, aos leitores, que a finalidade principal desta entrevista é difundir este trabalho pela necessidade que encontramos de mais e mais pessoas se tornarem aptas e dignas de serem instrumentos dos bons espíritos, para fazerem a caridade verdadeira de forma natural e simples, sem nenhuma exposição física desnecessária. Orgulho, vaidade e egoísmo são os defeitos que temos e que mais são esquecidos, anulados e abandonados na continuidade da prática de Caravaneiro.
5. JE: De que forma, então, este trabalho é realizado?
Nesses mais de vinte anos de atividades, estamos bem afinizados com a equipe espiritual que nos acompanha. Consequentemente, temos o cuidado de somente permitir o ingresso de novatos, quando vários indícios nos dão a certeza de que a pessoa possui condições para isso.
6. JE: Que indícios são esses?
Considerando que a nossa intenção é ampliar o entendimento dessa função para que outros coordenadores se aprimorem, salientamos que o quesito básico é sempre a demonstração de um grau de humildade e simplicidade natural que a pessoa já conquistou e hoje demonstra. Quem chega impondo, exigindo, criticando e divulgando que vai trabalhar na equipe, não consegue permanecer muito tempo. Sua exclusão ocorre naturalmente.
7. JE: Mas como é que na prática se identifica tudo isso?
Primeiramente, pelas vibrações que a pessoa exterioriza: como se comunica com os outros, como se tornou simpática ao grupo, a sua participação na mesa mediúnica, bem como na realização das preces em voz alta, na educação da sua mediunidade, na sua conduta de médium ao realizar a aplicação de passes e na sua conduta moral, isenta de vícios e hábitos nocivos.
8. JE: Então não é nada fácil pertencer ao grupo?
É verdade, e não somos nós que impomos isso. É o trabalho em si que exige esses quesitos. A responsabilidade deste trabalho é muito maior do que possamos imaginar.
9. JE: Pode se explicar melhor? Não é apenas uma visita ao doente no hospital ou no lar, quando este não pode se locomover ou, ainda, quando vocês vão promover o ensino e a prática do Evangelho no Lar?
Aparentemente é isso. Mas tudo sempre obedece a uma programação em andamento para que essas pessoas tenham a oportunidade de comprovar, para si mesmas, o quanto os ensinos de Jesus são verdadeiros e atuais. O quanto é bom e maravilhoso serem envolvidas por vibrações elevadas num momento de desespero ou de grande dor física, sentindo-se aliviadas e, até mesmo, curadas. São momentos cruciais de despertamento daquele espírito para as verdades eternas. Na visita seguinte, geralmente, não encontramos mais os olhares de indiferença ou de descrédito do doente ou dos familiares envolvidos. Em 95% dos casos, encontramos uma situação de respeito e uma satisfação íntima entre eles. Isso nos é uma comprovação de que fomos instrumentos dos bons espíritos.
10. JE: Mas, para que isso aconteça, o que ocorre no mundo invisível que somente vocês têm conhecimento?
Cada caso é um caso. Temos inúmeras situações vivenciadas que atestam a necessidade de nos aprimorarmos constantemente. Sabemos que, no hoje, somos o produto do que fizemos no ontem, que cada um reflete o seu estado íntimo mental espiritual. Neste trabalho, encontramos pessoas nas mais incríveis situações de resgate, de provações e dores cruciantes. Na preparação para as visitas, recebemos os alertas e os avisos, através da intuição ou de mensagens psicofônicas de algum médium da equipe. Quando nos deslocamos, mantemos um padrão elevado nas conversações e diálogos. Ao chegarmos, sentimos as vibrações reinantes e, muitas vezes, percebemos a agressividade espiritual nos atingindo de várias formas.
11. JE: Como assim, agressividade espiritual?
Normalmente, os médiuns que realizam esta extraordinária caridade de permitir que os espíritos desequilibrados se libertem das suas ideias e sentimentos inferiores exteriorizando, através deles, as aflições, o ódio, a revolta ou sofrimentos vivenciados ainda na carne, percebem nitidamente uma sensação de enforcamento, de apunhalada, de falta de ar, de sensação de frio, de medo, de desarranjo intestinal, de coceiras em todo o corpo, enfim, um desafio e um teste fantástico para que nossa fé e certeza do amparo espiritual nos ilumine a alma e o coração de bênçãos indescritíveis. É, na verdade, mais um exercício divino de aquisição da verdadeira fé, consciente e viva.
12. JE: Por isso é que não pode ser qualquer um a compor a equipe?
Parabéns pela percepção! Esta é realmente uma das causas. Já ocorreu de cometermos erros no passado. A pessoa que nos acompanhava quase que enfartou quando se sentiu envolvida pelos fluidos densos que existiam no ambiente. Uma das colegas teve que sair do ambiente para ajudá-la a se recuperar fora da residência. Como ela era cheia de títulos sociais, ministrava cursos e se achava muito segura de si, permitimos que ela viesse conosco. Todos aprenderam uma grande lição. Entendemos de vez que a aparência e a cultura sem a moral e o verdadeiro entendimento do amor que Jesus nos ensinou, pouco valem como atributos para quem almeja ser instrumento dos bons espíritos. Reconhecemos que ainda somos muito imperfeitos, mas temos consciência da necessidade de, a cada dia, nos tornarmos mais merecedores de apoio espiritual.
13. JE: Qual o outro cuidado que é observado?
É a parte ética. Nunca alguém soube por nós que uma pessoa, ou determinada família, teve este ou aquele problema espiritual que foi identificado na ocasião. Para o devido aprendizado de outros, quando se necessitou ilustrar este aprendizado, houve o comentário da situação, nunca dos envolvidos. Após o término de mais uma visitação, os caravaneiros se despedem felizes pela missão cumprida e os assuntos relacionados ao trabalho não são comentados. A situação vivenciada foi analisada e os ensinamentos recebidos assimilados, antes da prece final. Depois, tudo é passado e mais experiências foram assimiladas.
14. JE: Poderia nos ilustrar com algumas situações já enfrentadas e vencidas pelo amor e pela fé conquistada ao longo deste tempo?
Sim, tivemos inúmeras situações de aprendizado inesquecíveis. Uma delas se relaciona com uma senhora da alta classe social, que sofria de dores cruciantes na área abdominal. Tudo até então havia sido feito para a sua recuperação e nada se resolvia. A sua nora, simpática ao Espiritismo, fez a intermediação e, quando ela se dispôs a aceitar a visita da equipe, (levou mais de um mês para aceitar) lá comparecemos. Fomos avisados que enfrentaríamos uma situação terrível de descrédito. Confiamos-nos, mais uma vez, na proteção espiritual e lá comparecemos. Depois de conquistarmos a simpatia através do elogio sincero pelo bom gosto e a beleza da mansão, que realmente era muito bela aos olhos materiais, iniciamos a corrente de orações saídas do coração. Eis que chega a filha belíssima do casal e, dentro da liberdade que possuía, seguiu com o namorado para o andar de cima. Para surpresa nossa e decepção dos pais, inicia ela um relacionamento amoroso em alto e bom som, o que nos impediu de continuarmos orando. Recorremos, então, a histórias vivenciadas com finais felizes de curas e comprovação da bondade Divina para conosco até que a moça, satisfeita, e aparentemente feliz, descesse e saísse para continuar se divertindo. Reiniciamos as orações. Vibramos, evitando julgamentos e críticas mentais. Finalizamos com a percepção de que ela já estava bem melhor. Quando estávamos concluindo o trabalho espiritual dentro da Sociedade, foi autorizada a manifestação de um espírito que nos comunicou o encaminhamento da avó da encarnada que havia se suicidado ingerindo um veneno chamado “tatuzinho”. Por isso, a terrível sensação de queimação que a senhora sofria e nada aparecia nos exames realizados. Agradeceu a nossa participação e nos motivou a continuarmos este trabalho maravilhoso de ajuda ao próximo. Na semana seguinte, a nora nos contou que a mamãe liberal já estava totalmente recuperada e que tinha certeza de ser decorrente dos remédios que custaram a fazer efeito. Até hoje, ela não sabe que a sua avozinha deixou de lhe prejudicar.
15. JE: Quer dizer, então, que sempre vocês retornam à Casa Espírita para finalizarem o trabalho?
Sim, é um comportamento corretíssimo pois, além de encaminharmos os espíritos curiosos ou necessitados que nos acompanharam depois que estivemos onde estavam, eles são assistidos por outras equipes espirituais, dando prosseguimento à recuperação espiritual que fizeram por merecer. Já ocorreu de espíritos inimigos da família ou da pessoa visitada se manifestarem e serem orientados ao perdão, pelo entendimento da Lei do Retorno. Nestes casos, geralmente é feita a regressão espiritual pelos mentores espirituais da Casa, a fim de o espírito perceber que a falta ou o horror que o encarnado hoje lhe fez em vida anterior foi fruto de uma dívida dele no seu passado de erros e que, infelizmente ou não, aquele irmão foi instrumento do seu carma, fazendo-o sentir parte das dores causadas a alguém no ontem. Quando então ele revive as suas faltas cometidas e percebe o Amor de Deus lhe permitindo sofrer parte das dores que impôs a alguém, entende o porquê de perdoar para ser perdoado e, mais ainda, o porquê de Jesus nos dizer: “Amai os vossos inimigos!”
16. JE: O que poderia lhes ocorrer se não finalizarem o trabalho na Casa Espírita?
Deveremos sempre retornar antes das 22 horas, porque meia hora depois se inicia, na espiritualidade, a etapa noturna, vamos dizer assim, de atendimento aos encarnados. Se ultrapassarmos este horário, somos sabedores que muitos componentes da equipe que nos protege, ampara e intui, são deslocados para cumprir sua missão no “grande grupo” e deveremos aumentar nossa vigilância. Certa vez, como estávamos em outra cidade da região, achamos por bem finalizarmos no local do último atendimento e fomos cada um para a sua casa. Duas horas depois, tivemos que nos reunir na casa de uma das médiuns que foi literalmente “obrigada” a nos chamar pelas dores intensas no seu baixo ventre, pronta para ser internada em estado grave no hospital. Realizada a preparação espiritual, ali mesmo ela deu passagem para uma irmã que desencarnou ao fazer um aborto e queria, desesperadamente, ser ajudada. Era o espírito de uma tia de uma irmã visitada pelo grupo naquela noite que tinha se afinizado com a médium e aceitou ir junto, porque os espíritos haviam lhe dito que seria atendida na enfermaria que existe na parte espiritual do “Caminheiros”. Depois dessa, nunca mais repetimos este erro.
17. JE: Tens outra história interessante para os nossos leitores?
Felizmente sim, e várias. Temos até um livro previsto para mostrar, a todos, a beleza e a profundidade deste trabalho. Há uns dez anos, fomos convidados a dar assistência a uma irmã que estava sob intenso processo de quimioterapia e desesperada. Ela não aceitava a sua situação porque era mãe de três lindas crianças. A sua dedicada mãe mal tinha forças e equilíbrio para cumprir sua missão. O desespero era tanto que, talvez por acreditar que poderia ser verdade o que lhe afirmávamos, demonstrando fé e certeza na exposição dos motivos que a bondade divina lhe colocou naquela situação, ela começou a modificar-se para melhor. Não mais se lamentava, começou a ler e a ouvir os CDs das palestras de Divaldo, as mensagens de Chico Xavier e nos surpreendeu pela resignação que começou a surgir nas suas orações em voz alta conosco. O dia em que ela pediu ajuda para os doentes que não tinham o tesouro da certeza da continuidade da vida após a morte do corpo físico, sentimos que havia chegado o momento da sua desencarnação. Com efeito, dois dias depois sua mãe nos contou que ela, no momento supremo, disse-lhe: “Mãe, eu sei que estou indo. Por favor, não chore e não lamente. Estou sentindo uma paz tão maravilhosa que apenas lamento não ter conhecido o espiritismo antes de ficar doente. Diga a eles que vou pedir a Deus para que um dia eu possa integrar a equipe que ajuda eles a ajudar os outros”. Depois disso ela sorriu e, no caixão, a sua expressão era de felicidade. Atendendo ao pedido da sua mãe, a nossa equipe foi fazer as orações para ajudar às equipes espirituais no desligamento do seu corpo físico antes das despedidas formais, como é de praxe. Depois que cada um expressou seu amor fraternal, ao finalizarmos com a prece de Cáritas, vimos cenas espirituais de movimentos de lençóis muito alvos e enfermeiros espirituais em atividades. Quando fomos finalizar os trabalhos na Casa Espírita, recebemos o presente da manifestação mediúnica do encarregado espiritual dos velórios, nos agradecendo a dedicação e a vibração de boa vontade e fé demonstrada porque, graças a isso, eles puderam encaminhar mais quatro espíritos recém-velados que não entendiam e não aceitavam a morte do seu corpo físico. Na espiritualidade foi criada uma enfermaria visual, dando a eles a certeza de que estavam sendo encaminhados para o atendimento que necessitavam, e não, para o inferno que temiam.
18. JE: Agora estou entendendo mais por que este trabalho é maravilhoso. Estou me sentindo útil à sociedade repassando estas vivências para que mais pessoas tenham conhecimento e iniciem, com a experiência de vocês, esta função nas suas Casas Espíritas. Por onde elas devem começar?
A nossa Federação Espírita do Rio Grande do Sul tem, à disposição, a apostila dos Caravaneiros que ajudamos a compor quando fizemos parte da equipe do DAFA, no início dos anos 90, ao difundirmos a prática do Evangelho nos lares. Logicamente que outras pessoas capazes lá estão para orientarem e servirem aos interessados. Através deste site, também nos colocamos à disposição de todos que quiserem esclarecimentos e, até mesmo, palestras ou seminários para a formação de Caravaneiros abençoados pela boa vontade de servir na seara de Jesus, o Herói Silencioso da Cruz.
19. JE: Qual é a sua mensagem final para os nossos leitores?
É o convite para adquirirem a conscientização de tornarem-se cada vez mais Cristãos exercitando, no dia-a-dia, as virtudes que Jesus tão bem exemplificou aqui na Terra. Se tentarmos isto fazer de boa vontade, nossos amigos espirituais irão nos estimular mais ainda com intuições e bênçãos para prosseguirmos na recuperação de nós mesmos! Nunca é demais nos perguntarmos de vez em quando: “O que será que a maioria das pessoas irá comentar sobre a minha atuação na Sociedade, junto aos meus familiares, amigos e desconhecidos, enquanto for velado o meu corpo quando eu morrer? Já conquistei boa parte da paz em minha consciência para não mais temer a morte, as críticas e enfrentar minha verdade?” Felizmente, quem é um verdadeiro Caravaneiro, já compreendeu o que Jesus quis dizer com “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim!”