Samaritanos da Luz
Entrevista com Hugo DM Carvalho, diretor do Grupo de Teatro Amador Espírita “ Samaritanos da Luz ” de
Novo Hamburgo-RS.
1 – JE: Além de diretor de teatro, ator, corretor de seguros e professor de Educação Física, o Hugo D.M. Carvalho procura se tornar um verdadeiro espírita desde quando?
Hugo: Nasci em um lar espírita. Em 1945, minha saudosa avó paterna sofreu um abençoado processo obsessivo e meu pai desesperado, segui uma informação recebida levando-a para ser tratada pelo nosso querido mentor espiritual de hoje, o irmão Valentim de Castro, que naquela época estava encarnado dirigindo o Centro Espírita Fraternidade que havia fundado em Cruz alta, RS, juntamente com sua amada esposa Guilhermina Bugs de Castro. Depois de duas aplicações fluidoterápicas, o espírito que a acompanhava compreendeu que a morte havia sido somente do seu corpo físico e entendeu sua situação de sentir-se vivo sem ser visto pelas pessoas que via a todo instante e, no seu entender, faziam de conta que não o viam. Ao presenciar o “ milagre “ de ter visto sua mãe semi louca e depois normalmente sã, meu pai resolveu estudar e freqüentar o Centro. Por isso foi chamado de tudo o que é possível imaginar naquela época e na rua muitos se desviavam do seu caminho para não ter com ele. Neste ambiente de desafios e hostilidades gratuitas, cresci vendo efeitos mediúnicos de toda ordem, entendendo cada vez mais os tesouros do além túmulo com a prática do Evangelho no lar que meus pais nos ensinaram.
2 – JE: Mas a conscientização de se tornar um trabalhador da última hora veio depois, não é mesmo?
Hugo: Você já leu sobre isto, não é? Foi no meu livro das orações mágicas? OK! Resumidamente, posso recordar que recebi a benção fantástica depois que tentei esquecer os ensinos espíritas quando ingressei no sistema do materialismo avassalador que quase me fez desencarnar antes do tempo.
Deus me permitiu vivenciar a perda de todos os meus bens materiais para que eu pudesse voltar a ser Cristão e não ateu materialista. Passei seis meses de dificuldades materiais, emocionais e espirituais. Conheci a traição, a fome, a miséria, a depressão, o ódio de querer vingança e o desejo de suicidar-se, pois afinal, tudo o que eu acreditava, que eram a posse da riqueza material, o cargo de chefia, a admiração e a inveja dos outros, a projeção social e as facilidades que as influencias políticas e empresariais proporcionam aos seus escravos iludidos pelo poder temporal do materialismo, tinham sumido do meu controle. Havia perdido tudo dentro da ótica deste sistema terrível que infelicita toda a humanidade.
Naturalmente então, me senti revoltado para com ELE! E o orgulho que eu desconhecia em mim, me fazia sentir-se a maior vítima de todos os tempos! Esquecido que ELE é que me havia proporcionado tudo!
Depois de ter passado todas as fases da renúncia aos bens materiais e aos prazeres mundanos, recomecei como filho pródigo, a trilhar o caminho do descobrimento consciente dos ensinos cristãos que a Doutrina dos Espíritos havia sedimentado em meu íntimo na infância e na juventude. Ou seja, quando é chegada a hora, não tem jeito, a laranja amadurece e cai para servir de alguma forma a alguém. Ou é transformada em saborosos doces, ou se transforma em alimento para os seres humanos, animais e mesmo aos vegetais, como adubo.
3 – JE: Como ocorreu o surgimento do grupo de teatro nas dependências da Sociedade Espírita “ Caminheiros do Bem” ?
Hugo: Em 1993, com a ajuda da inesquecível e querida irmã Vera Lory Burmeister, sobrinha do saudoso Hélio Burmeister, ex -presidente da Federação Espírita Gaúcha ( Fergs ) exercíamos a atividade prazerosa de Evangelizadores no “Caminheiros do Bem, aqui em Novo Hamburgo. Havíamos feito um belo trabalho junto aos pais das crianças e eles nos confiaram seus filhos. Assim, durante três anos seguintes, tivemos mais de setenta por cento das crianças conosco. Por isso foi relativamente fácil motivá-las a vencerem o desafio de encenarem uma peça teatral. Optamos por fazer algo prático e que transmitissem uma mensagem verdadeira, para beneficiá-los no futuro. Utilizando então o cenário de uma frente de televisão, representamos várias vezes em inúmeros centros espíritas da região, nossa primeira peça teatral “ O invisível do Evangelho no Lar ”. A irmã Vera que também era professora, paralelamente, montou um grupo de Coral com os mesmos alunos e nos encontros de evangelização, nos apresentamos duas vezes no auditório da FERGS, na forma de teatro e coral. Com Este sucesso, resolvi fundar o grupo de teatro amador espírita “ Samaritanos da Luz “.
Os pais dos alunos acompanhavam seus filhos e embora uns sendo analfabetos, motivaram-se pelo desempenho dos seus filhos e aceitaram nosso convite para encenarmos a peça teatral “ Ninguém nunca estará só ” que eu havia recebido mediunicamente naquela ocasião. Enviada a Divaldo, dele veio a confirmação que em nossa programação espiritual, tínhamos débitos a serem debitados através desta forma de
propagação da Doutrina Espírita, e, também, nos informou quem havia me inspirado espiritualmente e o porque disto.
4 – JE: Presumo que tenha muitas histórias para contar...
Hugo: Realmente, Débora, temos inúmeras. É bem possível editarmos um livro mais tarde. No entanto, as orientações que recebemos do nosso iluminado Mentor Espiritual Valentim de Castro, é que nos tornaram capazes de representarmos esta peça teatral Espírita por mais de 45 vezes na grande região Metropolitana e no Vale dos Sinos. Sem o apoio de benfeitores espirituais, posso afirmar que é quase impossível montar, ensaiar e se apresentar levando a mensagem Cristã. Muito mais ainda, se vamos iluminar mentes e corações como a mensagem do “ Ninguém nunca estará só ” que orientava as pessoas sobre a importância da realização do Evangelho no Lar, a vida espiritual, a obsessão e os efeitos terríveis do aborto para quem o faz. Nesta época ela foi utilizada como apoio no projeto “ Jesus no Lar ” que havíamos montado quando estávamos fazendo parte da equipe do DAFA da FERGS, encarregados da difusão do Evangelho no Lar.
5 – JE: Pode nos falar das orientações que receberam para apresentarem uma peça teatral espírita?
Hugo: Sim, jamais deixemos a luz sob a mesa da ignorância.
A primeira delas, é que tenhamos a certeza de estarmos sendo vistos, analisados e criticados mentalmente por vários espíritos desencarnados e encarnados. A imunização contra os contrários é antes dos ensaios e das apresentações, nos elevarmos e nos vincularmos através da prece sincera e consciente, em voz alta e vibrante, pedindo a proteção, o amparo e a benção para os que ainda não despertaram para as verdades eternas. Certa vez, pela pressa de não chegarmos atrasados em outra cidade, pelo fato de terem acontecido inúmeros contratempos, saímos em dois carros e após rodarmos quarenta minutos, ( Não havia celular na época ) retornamos, porque não encontramos o Centro Espírita onde iríamos nos apresentar.
No dia seguinte, nos telefonaram e ficamos sabendo que tínhamos nos direcionado para outra cidade, por isso não encontramos o endereço. Aprendemos a lição.
Outra recomendação: Sempre, ao término, orarmos e ofertarmos nosso amor fraternal aos espíritos encarnados e desencarnados que assistiram a peça para ajudá-los a se libertarem do auto-sofrimento que se impuseram ou aos que iniciarem o arrependimento das suas faltas, terem mais facilidade para se perdoarem os seus desafetos e sentirem-se perdoados posteriormente por terem aproveitado a oportunidade de se redimirem dos seus erros. Quando certa vez, por motivo de acomodação e pretensa economia de gasolina, deixamos de retornar ao nosso “ Caminheiros ” para a oração de gratidão e encerramento da atividade teatral espírita, fomos chamados depois da “uma” da madrugada para atender uma das médiuns do grupo, que embora no primeiro ano de educação mediúnica, não havia percebido que estava sendo influenciada pelo espírito de uma mulher que havia desencarnado em pleno ato de aborto que infelizmente, havia realizado. Seu marido que pronto estava para levá-la ao hospital em ouvindo seus lamentos de dor intensa no baixo ventre, atendeu seu pedido e nos chamou.
No percurso até lá chegar pedimos ajuda espiritual, e com determinação e fé, lá mesmo em pleno quarto do casal, nos elevamos em prece, confortamos aquele espírito da irmã totalmente fixada na dor que sentiu ao desencarnar em pleno aborto e depois de mais hora não sentia mais nenhuma dor. A partir daí aquele marido começou a freqüentar nossa Casa Espírita e nós descobrimos que poderíamos gastar muito mais gasolina deixando de fazer o encerramento conforme as orientações recebidas.
A outra que também muito nos valeu foi a de que nunca deixássemos de respeitar o livre arbítrio das pessoas que nos envolvessem e nos confiássemos sempre aos bons espíritos, pois tudo sempre segue uma programação perfeita montada por eles, para obterem resultados satisfatórios em termos de evolução, provação e lei do Retorno. Assim é que vivenciamos em nossa penúltima peça teatral a tolerância junto a um irmão que sendo apenas simpatizante do Espiritismo, desempenhava seu papel de homossexual na vida real e na peça teatral, com bastante discrição e nível social. No entanto, não conseguia dizer ou traduzir em emoção, a fala da programação prevista para a personagem na peça teatral, de reencarnar nesta situação e possuir um comportamento digno, elevado e correto para evoluir verdadeiramente. Tanto é que teve imensa dificuldade para decorar os dizeres que ele discordava, ou não vivenciava e quase comprometeu a encenação na estréia. Suas companhias de encenação tiveram que fazer um bom jogo de cintura para representarem até o final, uma vez que as falas dele não correspondiam ao texto. Participou este nosso irmão de mais duas vezes e ele mesmo se afastou sem que tivesse prejudicado mais o elenco. Um irmão que é motorista de taxi, que cuidava da iluminação e que não é homossexual, ( sem demérito a quem quer que seja, pois o papel exigia uma boa ótica nesta área ) está substituindo-o com louvor de toda a ordem. Ficou a lição, de observamos para os papéis, pessoas que possam vivenciar a situação e principalmente, no teatro espírita, atores e atrizes que educaram e desenvolveram suas mediunidades e a praticam com amor e alegria, mantendo um elevado padrão moral de comportamento. Se no elenco não constar pessoas assim, dificilmente haverá progresso e sucesso. Posso afirmar que esta é uma premissa fundamental!
6 - JE: Depois destas duas peças teatrais, porque demorou tanto a surgir a terceira?
Hugo: Tivemos um longo período de distanciamento do teatro por vários motivos. Faculdade, viagens, novas atividades, relacionamentos e novos empregos, fizeram com que somente em 2006 voltássemos a ativa com o aproveitamento da união e do excelente clima fraterno entre os alunos dos grupos de estudos mediúnicos que bem entrosados, facilitaram o processo de formação de uma nova equipe teatral que desta vez, passou de vinte integrantes. Mais uma vez, sem aviso prévio, recebi o terceiro roteiro mediunicamente. Isto ocorre em forma de psicografia consciente, e, geralmente, depois do acordar sinto a necessidade imperiosa de escrevê-lo sem parar em torno de duas horas seguidas. É muito gratificante escrevê-lo e ficar vivenciando a trama e o desfecho, com o cuidado de não interferir para continuar captando o enredo da fonte espiritual. Foi assim que surgiu “ O testemunho de Joanna de Cusa ”, que fez um tremendo sucesso onde se apresentou. Desta vez, as trevas conseguiram me dar um prejuízo material bastante grande quando nos dirigíamos para uma apresentação na cidade de Três Coroas e um guarda de trânsito serviu de instrumento deles ( pelo seu comportamento agressivo e infeliz, irredutível ao bom senso) ao nos abordar com crianças e jovens no carro para nos parar e por causa da não revalidação ( por um dia ) do motor a gás! Sorte nossa que todos coubemos nos outros carros e seguimos para nossa apresentação. Somente duas semanas depois é que tive condição de ir lá retirar meu carro do pátio do DETRAN da cidade de Sapiranga. Como temos certeza que nada nos é acidental e que nunca somos injustiçados, optamos por aceitar com resignação esta perda material porque poderia ter ocorrido um acidente e o prejuízo teria então bem maior.
7- JE: Vocês lembraram de gravar estas apresentações?
Hugo: Sim, todas estão gravadas e constam também as atividades dos bastidores, o que no futuro, vai enriquecer muito a lembrança do que foi vivenciado.
8 – JE: Como foi que decidiram levar a mensagem espírita através do teatro para um público não espírita?
Hugo: Era um desejo adormecido que possuíamos em nosso inconsciente. Quando tomamos conhecimento do festival que seria realizado em Novo Hamburgo, eclodiu o desejo. Tanto é que numa manhã de domingo daí direto da cama para o computador e em um pouco mais de uma hora tinha escrito o roteiro da peça “A LEI DO RETORNO” e na mente, constavam ainda as pessoas que representariam cada personagem. Ou seja, a espiritualidade montou toda a estrutura para começarmos imediatamente! Ao convidar os atores a trizes que nunca antes haviam subido ao palco com exceção de um deles que muito nos ajudou com sua experiência, todos prontamente aceitaram confirmando que espiritualmente, haviam assumido o compromisso. Daí foi um Deus nos acuda, pois tínhamos apenas um mês e recém iríamos começar! Competimos depois com grupos que tinham mais de seis meses de ensaios! Fomos em frente e até o dia da apresentação, não dominávamos totalmente a fala e nem o posicionamento no palco, pois não pudemos fazer as marcações no local da apresentação, que seria no Centro de Cultura de Novo Hamburgo. Sabíamos e percebíamos as forças contrárias nos influenciando, mas nossa fé em realizar um bem social e nossa ligação com a oração diária e consciente, tornou tudo possível. Nos confiamos a Deus!
9- JE: Qual foi o momento mais difícil que vocês vivenciaram?
Hugo: Foi quando na manhã do domingo da nossa apresentação que seria